21.3.06

Mais um capítulo...

A Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá está situada na região do médio Solimões, na confluência dos rios Solimões e Japurá. É a maior Reserva existente dedicada exclusivamente a proteger a várzea amazônica (também conhecida como floresta inundada, já que fica parte do ano submersa nas águas).

A principal característica de Mamirauá é a grande variação no nível das águas dos rios. O regime das cheias no Solimões determina quanto da reserva será inundada, e quanto estará seca. E por isso, é o fator mais importante para a vida silvestre na área.

Este ambiente raro faz com que Mamirauá seja caracterizada muito mais pelo alto grau de endemismo do que pela alta diversidade, já que poucas espécies estão adaptadas a este ambiente. Endemismo quer dizer que a espécie só ocorre aqui, em mais nenhum outro lugar do Planeta.

Uma das espécies endêmicas da região é o Uacari-branco (Cacajao calvus), espécie símbolo da reserva e motivo pelo qual o Dr. José Márcio Ayres lutou tanto para transformar Mamirauá em reserva. Mas o Dr. Ayres não pensava somente em preservar o ecossistema que abrigava o Uacari, ele pensou muito mais longe...pensou em criar uma Reserva onde fosse possível preservar o ambiente mas também preservar as populações ribeirinhas que ali vivem, fazendo o sonho do desenvolvimento sustentável se tornar realidade!

O modelo de reserva de desenvolvimento sustentável é fundamentado na permanência e participação das populações locais na formação e manutenção de uma forte base científica para subsídio do manejo e conservação da biodiversidade. A criação da Reserva ofereceu uma nova fonte de renda para a comunidade, sem no entanto, substituir os trabalhos que eram feitos antes da criação da reserva. O “extra” que eles ganham, com trabalhos como guias naturalistas, coletores de campo, copeira, cozinheira e arrumadeira da Pousada, barqueiro e zelador ( entre outros), mudou um pouco a dinâmica financeira nas comunidades. Um estudo feito pela coordenadora do programa onde eu trabalho discutiu todos os aspectos sociais que mudaram a partir da implantação da reserva. Trabalho bacana, sério, foi a dissertação de mestrado dela...e ela faz questão de apresentar os resultados em todas as comunidades! E abrir discussões para que as pessoas das comunidades estudadas discutam o motivo das mudanças.

Aliás, a democracia aqui me deixou de queixo caído. Fiquei comovida como pessoas com tão pouco estudo e conhecimento do mundo (muitos nunca foram sequer a Manaus! A passagem de barco custa R$ 60,00) podem praticar a democracia de uma maneira tão séria, tão responsável. Nas reuniões todos falam, discutem os assuntos e só é feito o que é aprovado pela maioria. Mas todos discutem muito antes da votação, estabelecendo quais os prós e contras e informando a todos o motivo do seu voto.

Eu vou escrever mais (e mais!). Mas vai ser aos poucos. Senão fica muito cansativo...vou fazer por capítulos! O próximo será, a pedido da queridíssima e chiquérrima Lúcia Malla (que teve até elogio de um artigo de sua autoria na Science) sobre o boto cor-de-rosa!

Beijos, queridos.
Volto depois com mais uma aventura !

PS: Os posts estão sem fotos porque não tenho mais câmera digital. Mas seus problemas acabaram, caros leitores. Porque eu comprei uma numa super promoção (com frete grátis, isso é muito importante quando se mora loooonnnnggeeeee!) e deve estar chegando na próxima semana. Então aguardem, queridos, porque virão fotos belíssimas. Não dava para ficar aqui sem câmera digital...é até pecado, hehehe.

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