30.6.07

Eu quero ver é viver aqui!

Estou aqui assistindo ao Jô enquanto converso com a Mani no msn. Hoje é especial sobre a Amazônia.
Eu vivo na Amazônia, e trabalho por ela, desde 2005. Faço uma parte muito pequena do que é necessário para mantê-la. Mas eu estou aqui!

são artistas fazendo um manifesto para salvar a Amazônia. Acho a atitude bacana, acho que atinge um público maior, pq atores da Globo estão envolvidos e conseguem toda a grade do programa do Jô para falar disso...

Mas vamos por partes:

- Eu não vi no Pará e nem aqui no Amazonas a tão falada internacionalização da Amazônia. Não estou aqui dizendo que não há biopirataria ou gringo querendo patente de plantas ou de qualquer outra coisa. E nem sou defensora voraz de gringo nenhum. Mas os gringos que eu conheço que trabalham para e pela Amazônia são autorizados pelo governo federal. Tem a sua licença de trabalho publicada no diário oficial da União. Levam anos até obter a licença. O Governo pode ter mil defeitos, mas nisso o Ministério da Ciência e Tecnologia trabalha, e muito bem.

- Os gringos (e qdo eu digo gringo não digo de jeito nenhum de uma forma pejorativa, ok?) que trabalham aqui na Amazônia nos dão informações fantásticas, e na maioria das vezes, inéditas, sobre a fauna e flora. Os artigos são publicados em revistas científicas internacionais, as quais qualquer um tem acesso (ainda mais agora com o google scholar e o excelente Portal CAPES). Eles não roubam ou escondem informações. Eles enfrentam a dor e a delícia de viver aqui, em condições limites, para fazer o trabalho de campo. Muitas vezes tem mais recursos que pesquisadores brasileiros. E por isso tem como fazer um trabalho mais apurado.

- É muito difícil viver aqui. Uma amiga que trabalhou aqui comigo costumava dizer que "Amazônia nos olhos dos outros é refresco!". Todo mundo quer salvar a Amazônia mas pouquíssimos são capazes de viver aqui. E eu digo que só vivendo aqui para se ter idéia do que é, da grandiosidade da coisa e para entender que o buraco é muito mais embaixo.

- Queimadas, caça, pesca ilegal e mil outras coisas são ameaças. Não discuto. Mas não acho, sinceramente, que um abaixo-assinado seja capaz de atingir quem queima, quem caça, quem pesca (e não estou falando dos ribeirinhos, que pescam e caçam como subsistência, estou falando das grandes empresas por detrás disso).

- O que eu acho que ajudaria? Investimento na educação. Muito mais que fiscalização de parques e reservas. Muito mais que multas por crimes ambientais. EDUCAÇÃO. Sem educar não vai adiantar tentar. Poderão vir mil manifestos, mil ministros, os órgãos ambientais poderão contratar milhares de fiscais. Nada disso adiantará. Serão somente paliativos.

- Então, na minha opinião, conservação da Amazônia só será efetiva com educação. Pagando bem professor. Capacitando bem os professores. Dando livro, caderno, merenda e uniforme. Professores qualificadíssimos. É isso que falta. Somente com a educação da geração mais jovem alguma coisa poderá mudar.

- Eu sou ecóloga, e adoraria dizer que bastaria educação ambiental e fiscalização ambiental. Mas reconheço que é isso também é paliativo. É necessário mas não é o fundamental.

- E sim, eu já dei a minha parcela para a Amazônia e cansei de viver aqui. Não julgo quem não queira vir. É difícil demais, ainda mais para quem viveu no Sudeste a vida toda, como eu. Não me arrependo nem um segundo desta minha experiência. Contribui com o pouco que pude...

- Então, meus caros, vamos brigar por educação. Lá no nível básico, alfabetização mesmo. Estudar ética, ter acesso a cultura.

-E meus sinceros agradecimentos aos pesquisadores estrangeiros que se enveredaram mata adentro, em busca de informações importantes para que tanto o ministério da ciência e tecnologia, quanto toda a comunidade científica possam pensar e efetivar maneiras eficazes de manejo do ecossistema.

Esta é a minha opinião. Como bióloga que trabalha e vive aqui. E vocês, o que pensam?

19 comments:

Anonymous said...

Concordo inteiramente!!! Educação já!!!

Lilica said...
This comment has been removed by the author.
Anonymous said...

Que belo post, afirmações feitas por quem vive realmente a realidade amazônica. Concordo com você, a base de tudo é a educação.
Como você fez parte da blogagem coletiva, queria te dizer que postei sobre o biodisel à base de microalgas, que é uma alternativa àqueles obtidos a partir de oleaginosas respeitando mais o meio ambiente, como parte do compromisso da Idéia 38 do Dia da Terra aqui do "Faça a Sua Parte". Um abraço.

Baú da Silzinha said...

Querida Alline, obrigada pela visita e pelo comentário. Adorei.
Retribuo dizendo que li com muita atenção o que escreveste sobre a Amazônia.
Realmente aqui para os lados do sul do mundo nos chega apenas a mensagem globalizada. Não temos a mesma visão que tu tens como participante efetiva e "in loco". Parabéns pelo artigo.
Aqui de Floripa te mando um beijo muito carinhoso.
Silzinha

Anonymous said...

Olá Colega:

Estou colocando o nome do seu espaço lá no: http://blogcomtomates.blogspot.com/

É uma listagem de blogs. Estou indicando seu espaço, por vê seu empenho e suas aventuras em defesa de uma natureza que todos precisamos.

Sucessos!

érica said...

desculpe amigaaaaaa
claro que te dou toda razao ao fincar sua bandeira em nome da ciencia..... mas nao consigo ao menos formular um comentario coerente sobre o assunto...
vc já sabe o que tem absorvido-me completamente...rsrs

segunda, amiga!
mais encomendas de sua positividade MÁGICA******

bjoca estalada

Unknown said...

Eu também acho que educação é o mais importante, o mais urgente e o fundamento de uma atuação de longo prazo. Mas acho que, emergencialmente, a gente precisa, sim, de uma política mais dura e eficaz de fiscalização, com multas pesadas pras empresas que fazem pesca, caça e coleta ilegal de madeira, queimadas e garimpagem predatória e outros atos de destruição como so que a gente vê todo dia nos jornais. E acima de tudo, uma justiça mais eficiente e menos corrupta, que consiga implementar de maneira isenta estas ações. Porque eu acho que, hoje, o poder de destruição é maior, em intensidade, e mais rápido do qua a capacidade da educação de reverter isso.
bjs!

Jannine said...

Concordo com vc em tudo que vc disse amiga, olha eu sou muito sincera a afirmar que não seria capaz de ir viver aí...infelizmente, mas admiro pessoas como vc e tenho muito orgulho em ser sua amiga. Um cheiro no coração, e olha mesmo que o período junino tenha passado aqui o forró é o ano todo ;).

Osc@r Luiz said...

Ops!
Bióloga?
Ouvi bem?
Sou biólogo!
Flávia Nogueira?
Foi minha professora na Especialização!
Maria Augusta?
Uma das minhas melhores habitués!
Acho que devíamos conversar mais, uma hora dessas!
Gostei muito do que eu vi por aqui!
Beijo!

Carrie, a Estranha said...

Excelente post, Alline! Muito esclarecedor. E realmente bom ouvir alguém q mora aí. Eu tenho certeza q não aguentaria (bom, mas por isso eu não fiz biologia, né? Acho q pra quem é biólogo é o emprego dos sonhos. Nem q seja por um período).

Eu acredito na multa e punições mais severas (se elas funcionassem nesse país, né?). Claro, a educação é primordial para todas as áreas, mas acredito em mexer no bolso de quem lucra.

E, tipo assim, quem é Vitor Fasano pra falar alguma coisa? O cara trabalhou na secretaria - não sei se do meio ambiente - aqui no Rio e foi acusado de fazer reformas na casa dele, colocando espécies selvagens num mini-zoo, com a grana da secretaria...E VEM FALAR EM SALVE A AMAZÔNIA? Me poupe, né?

bjs

Unknown said...

Aline adorei o seu texto.Para quem tem notícias da Amazônia apenas através da mídia é muito gratificante poder aprender através de quem realmente sabe porque vivencia. Parabéns!
Beijos

Andréa said...

Voce falou tudo. Sou leiga e moro longe, mas entendi perfeitamente a sua posicao. Eh dureza. Obrigada por estar aih, fazendo a sua parte, fazendo um vento. Eu falo, falo dos problemas da Amazonia, de como a nossa Amazonia esta sendo explorada pelo mal, etc., mas na verdade nao faco nada pra mudar isso.
Parabens, Alline!!
Beijoca.

érica said...

gatannnnnn
estou feliz d+...

mas ainda nao quero divulgar, pra evitar energias contrarias....
estou num fluxo perfeito de positividade e nao quero q nada atrapalhe.
conto com vc...
a novidade por enquanto, fica aqui entre os blogueiros, ok?

bjo, fofa

Claudia Lyra said...

Quando vejo você e Eva falando do Norte do país, sempre me vem a mente essa expressão usada por sua amiga: "Amazônia nos olhos dos outros é refresco". Falar é mesmo muuuiiiitooo fácil. Suas ponderações estão corretíssimas!

Ps - Ah, mulé doida, tô morreeendooo de saudade de vocês tudo lá do Falmigas!!! Acho que vou ter um treco!!!!

Anonymous said...

Alli estou pensando nesse post os últimos dias. Essa semana respondi várias perguntas bobas sobre a Amazônia e já tinha falado que acho meio tolo, embora válido, os atores da Globo fazerem um abaixo assinado, mas pelo menos eles estào fazendo alguma coisa, e eu nào estou fazendo nada. E aí muitas coisas.
Primeiro eu queria te beijar por você achar que o segredo é educar. Tão óbvio e as pessoas não se tocam que é o mais importante... concorodo tanto.
Depois essa coisa de falar que tão querendo internacionalizar a Amazônia e tal e coisa (eu já recebi aquele e-mail da soberania nacional umas dez vezes). Desde que ajude a preservar, eu nem vejo grandes problemas, já que o Brasil precisa mesmo de mais ajuda.
Mas o mais importante que eu me dei conta é que as coisitas que eu faço é que são minha parte. Quando eu respondo as perguntas dos gringos com paciência, sinceridade e até procuro ler pra saber mais na hora de falar da Amazônia. E eu economizo água e luz, reciclo sempre que posso, uso produtos mais seguros, ando a pe (em Los angeles é uma vitória!), miha parte é de formiguinha mas é alguma coisa, né?
E ainda vou morar por aí um dia, ainda tenho esse plano, mas or enquanto é só sonho...

Vanessa said...

Amei o post, Alline.´
O triste é que é tão óbvio que Educação é solução pra tantos problemas, sejam eles aí na Amazônia, ou aqui no Sudeste, mas ninguém, dos que podem, faz alguma coisa realmente eficiente nesse sentido.
Te admiro muito pelo que vc tem feito esse tempo aí.
bju

Lucia Malla said...

Alline, minha filha, onde é que eu assino concordando com tudo? :)

Olha, é realmente fácil defender a Amazônia sem nunca ter visto um pé de açaí, do conforto de casas com banda larga no sudeste... Como pude ver quando estive por aí (e foi muito pouco tempo!!), o buraco da Amazônia é bem mais embaixo. E minha admiração por pessoas como vc, que vivem a realidade amazônica por um tempo de suas vidas (às vezes para sempre...) e fazem algo de concreto pela causa, é incomensurável.

E sobre gringos... vc conhece alguém que entenda mais a Amazônia, seus problemas e idiossincrasias, sua realidade e seus dilemas, que o nosso amigo australiano Bill? Eu acho q poucos. "Gringos" como ele são de um valor incrível para o Brasil, e acho q os brasileiros precisam despir-se desse preconceito manco. Temos mais é q deixá-los trabalhar com tranquilidade.

(Aliás, off-topic: tenho umas aventuras "billescas" para contar... vc vai adorar! Mas é papo pra depois...)

Vou guardar esse excelente post com carinho para futura referência. Beijos!

Unknown said...

Oi All! Tempos que não apareço, né! Pois é, concordo com tudo e sei exatamente o que vc diz. COncordo também com a história dos gringos... Conheci pouquíssimos. Não entendo esses papos.
Beijos

Anonymous said...

Meus pais moraram 5 anos na Amazonia na decada de 70 e não foi em Manaus, não! Meu irmão nasceu em Cruzeiro do Sul, AC na mão de parteira (uma freira) pois o hospital local não tinha medico. Moramos tambem em Santarem, PA. Meu irmao morou em Santarem duas vezes (em 95-95, e 2001-2002), e seu trabalho envolvia ir a muitas das regiões mais distantes e reconditas dos rios Amazonicos. Ele tem um respeito e amor muito grande pelo povo da Amazonia e sempre revira os olhos quando vê iniciativas como essas da TV. Ele sabe que a realidade por lá é BEM diferente...

Como vc disse, só a educação para resolver essas coisas... Leis e fiscalização?? Que fiscal do Ibama poderia multar ou prender um daqueles todo-poderosos madeireiros? Seria como mandar um policial pro alto de um dos morros do RJ para dar voz de prisão para o chefe do narco-trafico local...