Eu quero ver é viver aqui!
Estou aqui assistindo ao Jô enquanto converso com a Mani no msn. Hoje é especial sobre a Amazônia.
Eu vivo na Amazônia, e trabalho por ela, desde 2005. Faço uma parte muito pequena do que é necessário para mantê-la. Mas eu estou aqui!
são artistas fazendo um manifesto para salvar a Amazônia. Acho a atitude bacana, acho que atinge um público maior, pq atores da Globo estão envolvidos e conseguem toda a grade do programa do Jô para falar disso...
Mas vamos por partes:
- Eu não vi no Pará e nem aqui no Amazonas a tão falada internacionalização da Amazônia. Não estou aqui dizendo que não há biopirataria ou gringo querendo patente de plantas ou de qualquer outra coisa. E nem sou defensora voraz de gringo nenhum. Mas os gringos que eu conheço que trabalham para e pela Amazônia são autorizados pelo governo federal. Tem a sua licença de trabalho publicada no diário oficial da União. Levam anos até obter a licença. O Governo pode ter mil defeitos, mas nisso o Ministério da Ciência e Tecnologia trabalha, e muito bem.
- Os gringos (e qdo eu digo gringo não digo de jeito nenhum de uma forma pejorativa, ok?) que trabalham aqui na Amazônia nos dão informações fantásticas, e na maioria das vezes, inéditas, sobre a fauna e flora. Os artigos são publicados em revistas científicas internacionais, as quais qualquer um tem acesso (ainda mais agora com o google scholar e o excelente Portal CAPES). Eles não roubam ou escondem informações. Eles enfrentam a dor e a delícia de viver aqui, em condições limites, para fazer o trabalho de campo. Muitas vezes tem mais recursos que pesquisadores brasileiros. E por isso tem como fazer um trabalho mais apurado.
- É muito difícil viver aqui. Uma amiga que trabalhou aqui comigo costumava dizer que "Amazônia nos olhos dos outros é refresco!". Todo mundo quer salvar a Amazônia mas pouquíssimos são capazes de viver aqui. E eu digo que só vivendo aqui para se ter idéia do que é, da grandiosidade da coisa e para entender que o buraco é muito mais embaixo.
- Queimadas, caça, pesca ilegal e mil outras coisas são ameaças. Não discuto. Mas não acho, sinceramente, que um abaixo-assinado seja capaz de atingir quem queima, quem caça, quem pesca (e não estou falando dos ribeirinhos, que pescam e caçam como subsistência, estou falando das grandes empresas por detrás disso).
- O que eu acho que ajudaria? Investimento na educação. Muito mais que fiscalização de parques e reservas. Muito mais que multas por crimes ambientais. EDUCAÇÃO. Sem educar não vai adiantar tentar. Poderão vir mil manifestos, mil ministros, os órgãos ambientais poderão contratar milhares de fiscais. Nada disso adiantará. Serão somente paliativos.
- Então, na minha opinião, conservação da Amazônia só será efetiva com educação. Pagando bem professor. Capacitando bem os professores. Dando livro, caderno, merenda e uniforme. Professores qualificadíssimos. É isso que falta. Somente com a educação da geração mais jovem alguma coisa poderá mudar.
- Eu sou ecóloga, e adoraria dizer que bastaria educação ambiental e fiscalização ambiental. Mas reconheço que é isso também é paliativo. É necessário mas não é o fundamental.
- E sim, eu já dei a minha parcela para a Amazônia e cansei de viver aqui. Não julgo quem não queira vir. É difícil demais, ainda mais para quem viveu no Sudeste a vida toda, como eu. Não me arrependo nem um segundo desta minha experiência. Contribui com o pouco que pude...
- Então, meus caros, vamos brigar por educação. Lá no nível básico, alfabetização mesmo. Estudar ética, ter acesso a cultura.
-E meus sinceros agradecimentos aos pesquisadores estrangeiros que se enveredaram mata adentro, em busca de informações importantes para que tanto o ministério da ciência e tecnologia, quanto toda a comunidade científica possam pensar e efetivar maneiras eficazes de manejo do ecossistema.
Esta é a minha opinião. Como bióloga que trabalha e vive aqui. E vocês, o que pensam?